18 Oct, 2013 1,512 notes Reblogar "Amanhecer. Debatem-se flores lá fora, libertando-se do aquário de cheiros que a noite deixou. A porta range, o relógio arranha lembranças, as roupas de frio, perfumadas com um inverno esquecido e penduradas no cabide, nunca mais foram usadas. A cortina luta para não arder o quarto com os primeiros filhos do orvalho, minúsculas lágrimas das folhas, quando já não é possível tapar os olhos do Sol. A liberdade ilumina-se no canto dos pássaros, mas o som inaudível do bater das asas ainda me parece mais bonito. Na cama, só um corpo. Na vida, só um vazio. O carteiro não tocou a campainha. Não há ninguém lá fora. Não há nada entre a vida e eu, não há nada que faça com que a vida entre em mim. O silêncio dói muito mais na pele daquele que não quer ouvir, pois silêncio pode ser tudo, menos nada. Silêncio é uma resposta sem pergunta. Mais um dia para amanhecer, mais uma janela para abrir, mais um jarro para regar, mais um choro escondido atrás do espelho