O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega ao Brasil neste sábado (19) para uma visita de dois dias na qual tentará reforçar a relação entre Washington e Brasília, estremecida nos últimos anos por divergências políticas e comerciais.
Obama decidiu começar no Brasil sua viagem pela América Latina – que também inclui escalas no Chile e em El Salvador – pois, segundo o Departamento de Estado americano, trata-se de um país com uma "crescente liderança global", que é um "firme promotor dos valores democráticos" no mundo. Além da retórica oficial, o desenvolvimento econômico obtido nos últimos anos, a projeção política forjada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um potente mercado interno e um promissor horizonte para o investimento fazem do Brasil um destino imprescindível na América Latina.
Apesar dos fatores que fizeram do Brasil um país "da moda" no mundo, nos últimos anos as relações com os EUA passaram por algumas turbulências, dissimuladas no discurso oficial por ambas as partes, mas que distanciaram Lula e Obama.
A aproximação do Brasil com países conflituosos como Irã e Cuba, os diferentes pontos de vista sobre a situação no Oriente Médio e assuntos regionais, como as bases que a Colômbia cogitou ceder para o uso de militares americanos, deixaram entre Brasília e Washington arestas que ainda não foram aparadas.
As diferenças políticas afloraram também em palcos diversos, como a Cúpula sobre Mudança Climática de Copenhague, em 2009, na qual o Brasil acusou os Estados Unidos e outras potências ocidentais de torpedearem uma tentativa de acordo para reduzir emissões poluentes.
No âmbito comercial, o Brasil também sustentou que os Estados Unidos foram um dos responsáveis pelo fracasso na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), na qual o governo Lula emergiu como porta-voz dos países em desenvolvimento. Além disso, os Estados Unidos perderam o papel de maior parceiro comercial do Brasil, que agora pertence à China.
Desde que assumiu o poder, Dilma deu alguns passos que sugerem uma aproximação com Obama e, especialmente, uma tentativa de renovar as relações políticas e comerciais com os Estados Unidos. A presidente foi crítica com o Irã, sobretudo em relação ao tema de direitos humanos, e seu governo apoiou as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU contra a Líbia pela violenta repressão aos opositores do regime de Muammar Khadafi.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que foi embaixador em Washington entre 2007 e 2009, deixou bem claro que as prioridades da política externa de Dilma são América do Sul, Estados Unidos e China, nessa ordem. "Queríamos dar o maior conteúdo possível à visita, construindo sobre uma base que já é muito ampla nas relações comerciais, no diálogo político, em programas de dimensão social, com ênfase especial em áreas estratégicas de ciência e tecnologia", disse Patriota em recente entrevista.
Obama terá em Brasília um encontro com diretores de dez grandes empresas brasileiras de diversos setores, que abrangem desde energia e mineração até as indústrias de alimentos e construção. Várias dessas empresas trabalharão nas obras necessárias para a Copa do Mundo de 2014 ou os Jogos Olímpicos de 2016, eventos esportivos para os quais os Estados Unidos manifestaram interesse em contribuir com sua experiência. Outras estão envolvidas na exploração da camada de petróleo do pré-sal, na qual os Estados Unidos têm interesse crescente.
O Rio de Janeiro será a segunda escala de Obama em sua vinda ao Brasil. Embora a agenda não tenha sido detalhada, o presidente americano pode visitar a favela da Cidade de Deus. O que está confirmado é seu discurso na Cinelândia, histórico palco de manifestações políticas na capital fluminense. Durante a passagem pelo Brasil, a grande expectativa da diplomacia brasileira é que Obama se coloque a favor da inclusão do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas
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